Anadia e os Colégios de S. João Bosco e de Nª Srª da Assunção

Não podia deixar de fazer referência à minha estreia como blogger, simpatia de um outro blogger, no Aventar. Fica agora aqui também, em estéreo, para a posteridade e para a actualidade:

Em Anadia, os pais dos alunos de dois colégios, o Colégio São João Bosco (mais conhecidos aqui pela alcunha “os padres” ou “os Salesianos”) e o Colégio de Nossa Senhora da Assunção (conhecido pela alcunha “as freiras”) aderiram ao Movimento SOS Educação ( e, nas “freiras”, chegaram a encerrar a respectiva escola.

Ambos os colégio se situam a menos de 1,5 quilómetros da EB 2,3 de Anadia (conhecido por “o ciclo”) e da Escola Secundária Camilo Castelo Branco (o “liceu”).

Ambos os colégios cobram uma jóia por todas as candidaturas de novos alunos, cobram mensalidades (apesar de eu não ter conseguido apurar se são todos os alunos que a pagam) e seleccionam apenas os melhores alunos e que não provenham de famílias problemáticas. Como é fácil de deduzir, os alunos destes dois Colégios apresentam médias nos Exames Nacionais superiores aos alunos do Liceu, com algumas honrosas excepções. Ou seja, é nos Colégios Católicos que são formadas as elites anadienses desde há décadas, e na opinião dos párocos de Anadia nem seriam necessárias as escolas estatais: “os Colégios servem a comunidade de Anadia há décadas, antes da existência das escolas estatais, sendo este um ataque a estabelecimentos de ensino públicos de gestão privada, onde só não entram todos os candidatos, porque o Ministério da Educação não permite a abertura de mais turmas”.

Mas o caso anadiense vai muito além da dicotomia Ensino Público/ Ensino Privado: há aqui uma forte componente religiosa, como já se percebe pela intervenção pública dos padres e do bispo de Aveiro, e pelas organizações que gerem os Colégios, mas há também, associada a essa componente religiosa, uma dimensão política importantíssima: Anadia é um reduto histórico do PSD, e nas vésperas das recentes eleições presidenciais o presidente da distrital de Aveiro do PSD, Dr. António Topa, veio a Anadia dizer que este caso é “um ataque à Igreja Católica”. O director da Escola Secundária até ao anterior ano lectivo, e actual Presidente do Conselho Pedagógico do liceu, o Prof. Luís Santos, é professor de Religião e Moral e é também o Presidente da Assembleia Municipal de Anadia. Dito de outra forma, o voto católico é absolutamente maioritário e decisivo neste concelho e por isso a maioria da elite política anadiense está contra os cortes propostos pelo Ministério da Educação pois vêem nisso uma ameaça ao seu status quo. E não hesitam em mobilizar os pais para o Movimento SOS Educação. E tudo isto se passa num concelho do litoral, com boas ligações rodoviárias e ferroviárias, mas cujo rendimento médio é 60% do rendimento médio nacional.

Acresce a esta situação que a empresa Parque Escolar vai substituir as degradadas instalações das escolas estatais (principalmente o Liceu), criando um novo pólo escolar, cerca de 1 quilómetro a sul do actual, com capacidade máxima para acolher 1500 alunos, exactamente o mesmo número que actualmente frequentam o Ciclo e o Liceu. Ou seja, haverá permanentemente procura dos Colégios porque nunca será possível acolher em escolas estatais todos os alunos da área abrangida por este novo Pólo Escolar, que foi negociado exclusivamente entre a Parque Escolar, o Executivo Camarário e a anterior direcção do Agrupamento de Escolas de Anadia (presidida pelo já citado Prof. Luís Santos).