O Jornal da Bairrada não pára de errar...

O Jornal da Bairrada costuma ser um manancial de oportunidades de críticas, pois os colunistas que leio de cada vez que ponho os olhos em cima deste jornal fazem questão em mostrar sempre uma visão extremamente enviesada da realidade. Mas hoje até nem vou começar pelos colunistas, pois houve uma notícia cujas "gordas" me chamaram muito a atenção: "Especulação no preço da batata leva produtores à falência - ALDA apela ao governo para regular preços do escoamento da batata". A sério que a especulação leva os produtores à falência?! A sério?! Deve ser uma novidade! Modernices... Mas, espera aí, esta não é a associação de agricultores de um distrito que votou em massa num partido que tem como dogma o mercado livre? Ou a ALDA afinal é só dos agricultores que votaram BE e PCP, ou então os seus dirigentes estão pura e simplesmente parvos. A merda já está feita, não tentem agora disfarçar o cheiro. Votaram PSD, agora aguentem-se! Votaram no partido que os intermediários queriam, agora fodam-se! Hão-de bater com a cabeça na parede até rachar (a parede...). Quem não se sabe defender na altura de votar depois também não merece respeito nenhum...

Mas, claro, não vou deixar de comentar os "brilhantes" colunistas que o JB descobre! Então quando colocam um economista (?!) liberal a escrever alarvidades, de certeza que não vou perder a oportunidade de dar mais uma lição de economia... Tenho sempre a esperança que um dia algum destes idiotas que se acham especialistas em economia tenha a humildade de tirar o rabinho dos seus cadeirões de luxo e desça à terra para lidar com a realidade.

Serafim Marques, que é identificado como economista, depois de uma série de dissertações mais ou menos imaginativas a zurzir no despesismo de anteriores governos e a reafirmar a necessidade de mais austeridade, quando entra na análise económica erra logo na informação de onde parte: vem falar dos "tristes exemplos de muitos dos nossos companheiros de "desgoverno" (Grécia, Irlanda, etc)". Sr. Serafim (o Dr. é para quem sabe, não é para quem caga postas de pescada), a Irlanda tomou medidas de austeridade duríssimas assim que se deu a falência do Lehman Brothers (2009) e a Grécia já anda a aplicar medidas de austeridade duríssimas à mais de um ano. De então para cá, nunca mais estes países saíram da recessão, já pediram um pacote de "ajuda financeira" e já negociaram (Grécia) ou estão em vias de negociar (Irlanda) um 2º pacote de "ajuda" (uso o termo "ajuda" a ver se o Sr. percebe, porque não estamos na realidade a falar de ajuda, mas sim de um assalto organizado aos contribuintes de cada um dos países "ajudados"). Portugal, por incrível que lhe possa parecer, entrou e saiu da recessão no início da crise graças à política keynesiana de investimento público em época de retracção do investimento privado. Quando, graças aos esforços de economistas liberais como o Sr. Serafim, Sócrates caiu no erro de cortar o investimento público voltamos a entrar em recessão, que de início dizia-se que duraria aproximadamente 1 ano. E quantas mais medidas de austeridade e mais PEC's foram sendo aprovados, mais longas se tornaram as sucessivas previsões de duração da recessão (já se fala em 3 anos de recessão após o acordo com a troika!!!). Não está a ver aqui um padrão Sr. Serafim? Não será altura de tirar as palas, Sr. Serafim? Não será altura de deixar de enganar os seus leitores Sr. Serafim?

Um pouco mais adiante o Sr. Serafim sai-se com esta pérola: "A história (sem H maiúsculo, Sr. Serafim?!) julgará os políticos que nos têm governado, mas também este povo que deveria olhar para o exemplo de outras nações que fazem do trabalho, incluindo-se neste conceito alargado as demais componentes geradoras de riqueza (o capital, a gestão, etc) o motor das suas economias e, consequentemente, do seu bem estar." Pois, Sr. Serafim, não estava o modelo de desenvolvimento da Islândia e da Irlanda assente no capital? Já não se lembra das razões que levaram estes países à recessão? As palas são assim tão grandes? Então eu relembro-o: o que "estourou" nesses países foi o sistema bancário, o tal capital de que o Sr. fala... Ahhh, e também, supostamente, eram dos melhores países na gestão de fundos e de empresas... A Islândia já saiu da recessão precisamente porque recusou manter um sistema bancário demasiado pesado para o país. A Irlanda, que ainda não fez o mesmo mas talvez venha a ser obrigada a isso, só agora começa a dar sinais de que vai sair da recessão, e ainda não é certo que não volte a cair à fossa... Portanto, deixe-se desses delírios liberais que só vão ajudar a colocar os seus leitores na miséria.

Por fim, mais uma pérola de indigência intelectual: "Distribuir a riqueza que não existe ou recorrer ao crédito sem que a economia seja capaz de gerar os recursos para a sua amortização (...) mais tarde ou mais cedo acabamos por sofrer as consequências dessas erradas políticas." Pois Sr. Serafim, tudo muito lindo, mas agora vamos a factos: quantos milhares de milhões de euros em lucros não tiveram os principais grupos económicos e financeiros portugueses na última década? Por acaso esses grupos redistribuíram esses lucros pelos seus trabalhadores para evitar que esses mesmos trabalhadores tivessem de recorrer ao crédito para, por exemplo, comprarem casa ou o carro com que se deslocam para os seus locais de trabalho? Ou, pelo contrário, distribuíram esses lucros pelos accionistas (novamente grandes grupos económicos na sua imensa maioria) que depois foram colocando esse capital em cada vez mais aplicações financeiras? E quem fixou as taxas de juro, Sr. Serafim? Foram, por algum acaso, os trabalhadores? Sr. Serafim, é nas respostas a estas questões que está a génese da crise actual: a crise foi criada pela economia financeira (do capital, para utilizar a sua expressão) que o Sr. está a defender. Mas, para pagar os erros de "economistas", como o Sr. Serafim, vem com o delírio de que a culpa é de todos os trabalhadores portugueses. Sr. Serafim, vamos esclarecer isto de uma vez por todas: A CULPA É SUA! PAGUE VOCÊ!!! A INCOMPETÊNCIA É SUA! PAGUE VOCÊ!!!

Por fim, só uma nota sobre o editorial de António Granjeia e a crónica de Armor Pires Mota: meus senhores, falem de assuntos importantes em vez de aparências. Não estavam a falar da mulher de César, estavam a falar do Governo de Portugal, como tal exige-se um pouco mais de olho crítico (para a positiva ou para a negativa). E, mais uma vez, se é para actuarem como órgão de propaganda do PSD, então ASSUMAM-NO! Ou não são Homens para isso?